Para
evitar o "embromation" no currículo
Por Vívian Soares | De São Paulo
No Banco do
Brasil, Carlos Netto, diretor de gestão de pessoas, diz que auditoria conta
pontos no plano de carreira
Velha conhecida dos departamentos
de finanças e contabilidade das empresas, a auditoria está se tornando aliada
também dos gestores de recursos humanos. Com o objetivo de "medir" o
real conhecimento de idiomas de candidatos e funcionários, muitas companhias
estão investindo em verdadeiros processos internos de investigação e avaliação
de profissionais. A chamada auditoria linguística vem se popularizando
especialmente entre multinacionais e em setores onde a comunicação em inglês é
imprescindível, como é o caso da indústria de petróleo e gás.
O crescimento da demanda
por esse serviço é motivado pela dificuldade das empresas em encontrar
profissionais com inglês fluente no mercado e também dentro dos próprios
quadros. Segundo a gerente corporativa da C. I. S. Sylvia Helena Lani, a
procura pela ferramenta tem aumentado de forma expressiva em segmentos como
financeiro, jurídico e marketing de diferentes indústrias. "É uma
habilidade que os clientes necessitam mapear em seus funcionários para definir
promoções e contratações", diz.
A necessidade do serviço
se acentua graças à alta incidência de exageros nos currículos sobre o domínio
de idiomas. Muitas vezes, por exemplo, o profissional alega ser fluente em
inglês por ter morado fora ou conseguido o certificado de conclusão de algum curso.
"Isso não significa, porém, que ele tenha o nível adequado ou desejado
pela empresa para a posição que vai ocupar", afirma Angela Branco. A
companhia viu a demanda por auditoria linguística aumentar em 20% no último
ano, principalmente por conta de clientes que atuam na cadeia do petróleo.
"É um setor que recebe muitos estrangeiros. Boa parte da comunicação entre
os funcionários é feita em inglês".
Esse é o caso da Wood
Group PSN, empresa que presta serviços de engenharia para plataformas de
petróleo. Com sede na Escócia e mais de 30 mil funcionários em todo o mundo, a
companhia exige domínio do inglês entre os profissionais que ficam
"embarcados" nas plataformas e também entre os que atuam no setor
administrativo. "Nosso intercâmbio com outros países é muito forte, seja
em negociações com o cliente ou na comunicação com outras filiais da
empresa", afirma Bianca Moitta, responsável pela gestão de treinamento e
desenvolvimento do grupo no Brasil.
Desde 2010, a empresa
promove auditorias linguísticas entre funcionários e candidatos para checar o
nível do idioma. "É uma espécie de régua universal para medir desempenho
oral e escrito. Como se trata de uma função muito específica, muitas vezes o RH
não consegue fazer, por estar mais concentrado em avaliar aspectos técnicos e
comportamentais dos profissionais."
A primeira auditoria
linguística foi interna, mas logo o serviço se estendeu também para os
processos de recrutamento do grupo. "É muito comum recebermos currículos
que exageram o nível de fluência no idioma. Se o profissional diz que tem
inglês básico, por exemplo, é porque não sabe nada", afirma.
De acordo com Alexandre
Attauah, gerente da consultoria de recrutamento Robert Half, há uma tendência
natural de que os profissionais tentem "maquiar" seu conhecimento em
línguas quando não o consideram bom o suficiente. "O idioma acabou se
tornando um item obrigatório no currículo e, muitas vezes, o profissional mente
para parecer mais fluente", afirma. Uma pesquisa recente da consultoria
com 2 mil gestores de RH em 11 países mostrou que 41% deles apontam o
conhecimento em línguas como o aspecto mais exagerado nos currículos que
recebem - no Brasil, esse índice sobe para 46%.
Aferir o real domínio dos
candidatos a uma vaga, porém, é apenas uma das funções da auditoria
linguística. Em grande parte dos casos, ela funciona para avaliar os
funcionários que já estão na empresa e ajudar a empresa a desenhar programas de
treinamento corporativo. "O objetivo não é 'descobrir uma mentira', mas
entender quais são as necessidades do profissional para investir em seu
desenvolvimento", afirma Bianca Moitta. A empresa subsidia cursos de
inglês para os funcionários que participam da avaliação.
No Banco do Brasil, a
auditoria é uma espécie de certificação, que abre portas para que o funcionário
dê sequência em seu plano de carreira. "O banco está em processo de
internacionalização e precisa preparar seu quadro de profissionais",
afirma Carlos Netto, diretor de gestão de pessoas. Segundo ele, apesar de não
ser obrigatória, a avaliação conta pontos para o profissional que se candidata
a posições que demandam conhecimentos em idiomas, como é o caso da área de
comércio exterior e dos escritórios internacionais. "Recentemente, abrimos
30 posições de gerência no exterior e 800 pessoas se candidataram. Com tanta
concorrência, as diferenças entre os classificados é pequena, e a certificação
em idiomas acaba sendo decisiva."
Netto explica
que, embora voluntária, a adesão à certificação costuma ser grande.
"Recebemos cerca de 700 pedidos por ano. A demanda vem crescendo com o
passar do tempo, principalmente por parte dos jovens", afirma. A
certificação usada pelo Banco do Brasil é o Business Language Testing Service
(Bulats), a instituição reembolsa o funcionário que for 'aprovado' na
avaliação e concede até 80% de subsídio para estudo de idioma. "É um
benefício percebido como um salário indireto", diz Netto.
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